Teste: Cruze hatch bota a Chevrolet de volta ao jogo
31/08/2012 13:29Versão hatch vende bem e faz do Chevrolet Cruze o médio mais vendido do Brasil
A Chevrolet foi, durante muito tempo, uma das "queridinhas" da classe média-alta brasileira. Sempre teve em suas linhas modelos luxuosos, cheios de tecnologia e que atraíam legiões de fãs para as suas lojas, tais como o Opala, Vectra – primeira e segunda geração – e Omega. O problema é que já fazia algum tempo que a fabricante não se dava bem com esse público. A terceira geração do Vectra – com direito à variante hatch – nunca chegou a agradar tanto. A "revolução"veio no fim de 2011, com o Cruze sedã, modelo global da marca. Em abril deste ano chegou o complemento da linha, o Cruze hatch, chamado de Sport6. E com a tal proposta de resgatar o requinte dos modelos da marca, ele emplacou. Não só encostou nos líderes do segmento como foi o responsável por transformar a linha Cruze na mais vendida entre os médios do país.
Nos três meses completos de vendas, o Cruze hatch acumulou média de 1.600 unidades, enquanto o sedã consegue cerca de 3.200 compradores, segundo dados da Fenabrave. O total de 4.800 emplacamentos mensais foi o suficiente para tirar o Toyota Corolla – só disponível como sedã – e suas 4.500 unidades da liderança. O Honda Civic vem logo atrás, com 3.800 exemplares por mês.
De quebra, ainda deu para encostar na dupla que lidera entre os hatches médios faz tempo. Este ano, o Ford Focus tem batido nos 1.900 emplacamentos mensais, enquanto o Hyundai i30 fica nos 1.650. De qualquer forma, o hatch superou com folgas a expectativa inicial da Chevrolet, que previa algo em torno de mil, 1.100 vendas por mês.
Isso apesar do preço alto do modelo da Chevrolet. A versão testada, a LTZ manual, custa R$ 72 mil. Igualmente equipados, Ford Focus e Fiat Bravo ficam em R$ 64 mil. Em sua versão completa, o Peugeot 308 só pode ser equipado com transmissão automática e mesmo assim é R$ 6 mil mais barato que o Cruze. Já preparando a chegada da nova geração, a Hyundai faz promoções com o i30, que é vendido por cerca de R$ 55 mil.
A fabricante tenta explicar a etiqueta de preços com a alta dose de tecnologia embarcada. Começando pelos equipamentos, o Sport6 LTZ é completo – como é de se esperar em um veículo "top". Dentre eles, keyless, seis airbags, sensores de chuva e de luminosidade, controle de tração e estabilidade, ABS com EBD, rodas de alumínio de 17 polegadas, ar-condicionado manual, direção elétrica e rádio/CD/MP3/USB/Bluetooth com GPS e tela de 7 polegadas.
A parte mecânica também é recheada de itens modernos. O motor é o 1.8 da família Ecotec, importado da Hungria e com comando variável na admissão e no escape. Com etanol, ele rende 144 cv a 6.300 rpm e 18,9 kgfm a 3.800 giros. Tanto a transmissão manual quanto a automática têm seis velocidades – daí o nome Sport6.
O trem de força e a lista de equipamentos são os mesmos. Por isso, a Chevrolet tenta diferenciar o hatch do sedã através de uma proposta mais esportiva. Além do nome, que tenta incitar um comportamento mais agressivo, o design do dois volumes é definitivamente mais ousado. Os elementos tradicionais ainda estão lá, como a identidade visual na grade dianteira e os faróis afilados, mas existem surpresas como o para-choque com entrada de ar alargada e no estilo colmeia. Evidentemente, a maior diferença entre os dois está na traseira. O vidro anguloso, o vinco na sua base e o aerofólio compõem um belo conjunto e conseguem dar um aspecto realmente mais esportivo ao hatch. Algo que pode ajudar a atrair um público mais jovem para a linha de médios da Chevrolet.
Ponto a ponto
Desempenho – O Cruze Sport6 até é rápido, mas anda junto com os companheiros de segmento. A aceleração de zero a 100 km/h é feita em 10,7 segundos, perto do Ford Focus 2.0, por exemplo, que é 0,2 s mais veloz. Para conseguir tirar o máximo do motor de 144 cv e 18,9 kgfm é preciso alcançar rotações maiores. Mas, graças à soluções modernas, como o coletor de admissão com geometria variável, o desempenho em giros médios é até satisfatório para um veículo do seu porte. O câmbio manual de seis relações incita uma tocada mais arrojada. Ele é bem escalonado e proporciona engates precisos e macios. A embreagem tem o peso certo. Nota 8.
Estabilidade – Mesmo sem suspensão traseira multilink – presente no Focus –, o Cruze Sport6 tem um comportamento dinâmico elogiável. O peso menor deixa o hatch mais esperto nas curvas do que o sedã. O câmbio manual "certinho" ajuda a passar a sensação de carro na mão. Apesar de ser elétrica, a direção tem peso correto e ajuda na tocada mais ousada. O conjunto todo responde bem aos comandos do motorista no volante e passa segurança aos ocupantes. Nas retas, também não há qualquer sinal de instabilidade. Nota 9.
Interatividade – O sistema de entretenimento do Cruze é vistoso mas, de longe, um dos mais confusos. Há uma imensa profusão de botões no painel, o que deixa tudo muito poluído. Ao menos, o sistema de entretenimento é completo. O câmbio manual é preciso, com engates suaves. A visibilidade dianteira é correta. Já a traseira é prejudicada pelo vidro muito inclinado. O painel de instrumentos tem visualização limpa e os comandos vitais do carro são intuitivos. Nota 7.
Consumo – O InMetro não fez medições nos veículos da Chevrolet. O computador de bordo apontou uma média de 7,3 km/l de gasolina obtidos em circuito misto, sendo 1/3 rodoviário e 2/3 urbano. Nota 6.
Conforto – Neste aspecto, o Cruze é correto. O trabalho da suspensão é feito com competência e as imperfeições são bem absorvidas. O espaço interno é apenas justo. É suficiente para quatro adultos sem apertos, porém nada muito além disso. O isolamento acústico em relação ao motor só funciona bem em rotações baixas e médias. Basta passar dos 3 mil, 3,5 mil giros que o barulho invade a cabine. Nota 7.
É prática comum das fabricantes de automóvel tentar dar ao hatches médios um apelo mais esportivo em relação ao sedã correspondente, mesmo sem alterações mecânicas. Até porque o comportamento dinâmico segue essa linha na maioria das vezes. No caso da Chevrolet com o Cruze não foi diferente. O dois volumes recebeu no Brasil o nome de Sport6 para tentar dar uma forcinha nas vendas junto ao público que gosta de esportivos. E, em linhas gerais, o hatch feito em São Caetano realmente é um modelo divertido de dirigir.
O motor é competente. Soluções modernas como o duplo comando varíavel de válvulas ajuda a trazer a faixa máxima de torque para rotações inferiores. O que deixa o carro mais amigável em grande parte das situações urbanas. Para tirar a esportividade que o nome possa sugerir, no entanto, é preciso pisar fundo. Acima de 3.500 giros, quando a força está disponível em sua totalidade, o desempenho fica mais interessante. Tudo com a ajuda da precisa transmissão manual e sua alavanca de curso curto.
No resto, o Cruze é praticamente igual ao sedã. O que traz qualidades e defeitos bem distintos. O espaço interno é bom, inclusive atrás. Dá para levar quatro adultos com bastante conforto. Ponto também para a suspensão, que consegue fazer o meio termo entre rigidez e absorção de impactos. Os bancos são confortáveis e têm apoios laterais – mas faltam ajustes elétricos, principalmente para o motorista. Dirigir o hatch por muito tempo é uma tarefa que não cansa. O porta-malas é menor do que no três volumes, mas os bancos traseiros podem ser rebatidos, aumentando a área de bagagem.
A escolha de materiais é algo que deixa a desejar em um carro deste preço. O interior é todo muito bonito e bem desenhado, com encaixes precisos e qualidade de montagem. Dá até a sensação de acabamento acima da média. Mas a profusão de plásticos rígidos espalhados pelo interior, contudo, atrapalha a boa impressão geral. Mesmo as partes macias ao toque têm espumas muito finas, que não passam o requinte que deveria exibir um médio. Ainda mais quando se olha a etiqueta de preço do Cruze Sport6.
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